The Curator's Lab

Como é morar numa casa antiga?

Dois anos atrás, eu e o meu marido compramos a nossa primeira casa—uma casa antiga construída em 1892. Pra nós dois, que não viemos de famílias ricas, foi um momento muito incrível, ainda mais porque tomamos esse passo aos 26 e 28 anos, respectivamente.

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A partir do momento que a chamamos de nossa, começamos mil projetos diferentes! Afinal, juntar um engenheiro e uma designer é a melhor—e também pior!—combinação pra planejar uma reforma. Eu, cheia de ideias e com a capacidade de “ver” o resultado antes mesmo de começar. Ele, como o “know how” de como chegar lá, se jogando em mil livros e vídeos no youtube sobre fiação, gesso, ou impermeabilização.

Amamos a nossa casinha, e a maneira que conseguimos tornar ela ainda mais “nossa” através de vários projetos. Se você quer saber como é morar numa casa antiga, continue lendo!

O bairro

Uma das casas mais interessantes no nosso bairo

Como qualquer outra casa, a sensação de pagar uma hipoteca e saber que esse dinheiro está sendo investido numa propriedade sua é maravilhosa. Ainda mais porque eu e meu marido temos os benditos “student loans”— empréstimos que pegamos para estudar. Aqui nos EUA é bem comum, ainda mais para as faculdades de maior prestígio.

Mas além dos motivos normais pelos quais é bom ter uma casa, eu adoro que a nossa casa é tão antiga, a começar pelo bairro em si. As ruas são feitas de tijolinhos! Isso mesmo, não de pedras ou paralelepipedos, mas de tijolinhos. Além disso, as calçadas são super altas. Sabe por que? O nosso bairro foi construído por volta de 1840, quando todos andavam de carruagem! Então a calçada tinha que ser mais alta para as pessoas que estavam descendo na sua carruagem. Um dos nossos carros é um sedan, então temos sempre que tomar cuidado para não abrir muito a porta do passageiro, senão ouvimos aquele arranho que dói até na alma.

As árvores são tão antigas quando as ruas. No outono, o bairro fica a coisa mais linda, com as folhas tentando ir do verde até o vermelho dos tijolinhos das ruas. É uma festa de amarelos, laranjas, e vermelhos, parece um filme. Todo dia quando saio de casa ou volto do trabalho eu sempre paro por um segundinho numa ruas do nosso bairro pra admirar o outono e agradecer.

O bacana é que cada casa foi construída sobre medida entre os anos 1840 e 1900, então cada casa é única tanto em estilo quanto nas suas cores. Sabe aquela ideia do subúrbio americano onde todas as casas são iguais? Nosso bairro não poderia ser mais diferente!

A casa

A nossa casa passou por várias reformas ao longo dos anos. Quando ela foi construída, as casas não tinham eletricidade! As luzes eram todas à gas. Além disso, também não existia ar condicionado ou aquecimento central. Onde hoje fica o nosso aquecedor antes tinha uma fornalha à carvão. Nossa cozinha ainda tem o resquício do forno à lenha. A casa tem várias arandelas onde muito tempo atrás colocavam velas para iluminar o caminho.

Detalhes da nossa casa antiga

É muito legal saber que somos parte dessa história, e que estamos encarregados de levar a nossa casa a sua próxima iteração. Um dia, os futuros donos vão ver o que fizemos como parte dessa história que já tem quase 130 anos! Justamente por isso, pensamos muito antes de fazer qualquer mudança estrutural ou permanente. Queremos trazer a nossa casa ao futuro mas ao mesmo tempo respeitar a sua história.

Já faz dois anos que estamos aqui, mas continuamos admirando os detalhes originais. As molduras das janelas são todas originais, entalhadas à mão com pequenas flores. O piso de madeira—pasmem—também é original, e está em ótima condição. As janelas são enormes, e cada uma de um tamanho diferente!

Isso foi um problema quando encomendamos as persianas, pois tivemos que encomendar sob medida. Esse é um bom exemplo de como modernizamos a casa mas priorizamos a sua essência: escolhemos persianas que vão dentro do vão da janela, para que as molduras fossem o foco do design.

É um equilíbrio interessante—dá uma alegria tremenda, mas ao mesmo tempo requer mais tempo e dinheiro. As persianas custaram quase 30% a mais por serem feitas sob medida, e tivemos que pesquisar muito pra encontrar uma empresa que as fizesse nas dimensões certas para caber nas nossas janelas de 1892. Todo projeto de reforma vira dez.

Será que faz frio no norte dos EUA?

Morar numa casa antiga também requer um certo grau de paciência. É injusto esperar que uma casa construída em 1892 tenha o isolamento térmico tão bom quanto uma casa nova. No verão, abrimos as janelas pra ventilar bem a casa, e o ar condicionado chega no máximo aos 22 graus. Se colocarmos uma temperatura mais fria do que isso, ele ficaria ligado 24 horas por dia tentando esfriar a casa, sem sucesso.

No inverno é a mesma coisa. A casa não esquenta da mesma maneira que casas mais novas, o que, num inverno que chega à -30 graus, faz muita diferença. Nossos amigos conseguem estar em casa de short e camiseta, enquanto nós estamos de moletom e meia, e a cama está tão fria que é preciso muita coragem pra entrar debaixo dos lençóis!

Mas aí olhamos o nosso pé direito altíssimo, os detalhes feitos a mão que nenhuma outra casa tem, vemos as mudanças que já conseguimos fazer na casa, e chegamos sempre à conclusão de que tudo isso vale a pena.

Aprendendo a lidar

No final das contas, preferimos não ter 100% das conveniências modernas mas adaptar a nossa casa como podemos. Estamos refazendo toda a fiação, e colocando interruptores inteligentes que nos permitem acender ou apagar a luz pelo telefone ou pelo Google Home, por exemplo. Vou escrever um outro post só sobre as reformas pra dar um pouco mais de contexto e informação sobre como é a reforma de uma casa antiga.

É uma questão tanto de perspectiva quanto de expectativa. Confesso que as vezes, especialmente no meio de uma reforma que ficou ainda mais complicada pela idade da casa, sentimos falta de não morar numa casa “normal.” Mas sabemos que é uma oportunidade única, e a alegria de ter uma casa tão antiga e especial vale a pena!

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